Uma liminar da Justiça de Parauapebas, expedida na tarde desta terça-feira (19), a pedido da mineradora Vale, determinou a desobstrução do o ao Projeto Salobo, cuja entrada estava bloqueada por manifestantes desde a manhã de segunda-feira (18).
Acompanhados de um oficial de Justiça, que entregou a ordem aos manifestantes, policiais militares cumpriram a decisão e normalizaram o trânsito no local, que ficou paralisado por mais de 30 horas.
O protesto na frente do projeto da mineradora foi feito por familiares e amigos do jovem garimpeiro Jesiael da Silva Lucena, de 26 anos, morto durante uma ação da Polícia Militar, na semana ada, dentro de uma área da Floresta Nacional de Carajás, no sudeste paraense.
A intervenção policial ocorreu na Vila Paulo Fonteles, em uma área conhecida como mata do Rio Azul, pertencente ao município de Marabá, distante cerca 80 quilômetros de Parauapebas.
O boletim de ocorrência (BO) foi feito na 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil pelos policiais militares. Eles narraram que foram informados pelo supervisor de segurança da empresa que presta serviços de guarda florestal para a Vale, que uma equipe de vigilantes estava sendo ameaçada por integrantes armados de uma facção criminosa, que estaria garimpando em área de preservação da Floresta Nacional de Carajás.
Segundo a ocorrência, por ordem do comando do 23º BPM, a equipe se dirigiu ao local indicado e montou um posto de observação, identificando seis homens no garimpo ilegal, três deles portando espingardas.
Ainda conforme a ocorrência, os garimpeiros Alexandre Soares da Conceição e Guilherme Pereira da Costa foram os primeiros a ser detidos. Na outra margem do Rio Azul estavam outros quatro homens, sendo que, segundo os PMs, três portavam espingardas, mas apenas Jesiael da Silva Lucena usou sua arma e efetuou um disparo contra a guarnição da PM, que também atirou nele, enquanto outro garimpeiro correu para dentro da floresta.
Joadson Silva Lucena, irmão do garimpeiro morto, e Thiago Pereira de Sousa também foram presos. No local foram apreendidas duas espingardas de fabricação caseira conhecidas como “por fora”, uma sacola contendo balins de chumbo e de ferro, pólvora, espoleta e 59 gramas de maconha.
O pai do jovem morto, Josias Nunes Lucena, que liderou o protesto em frente ao Projeto Salobo, contestou a versão da Polícia Militar e da empresa que presta serviço de segurança à Vale, de que o rapaz pertenceria a uma facção criminosa e que teria reagido à abordagem policial.
O pai pediu justiça pela morte do filho. Josias Lucena afirmou que o filho era trabalhador e não tinha qualquer ligação com facção criminosa e que também não atirou contra os policiais. Segundo ele, as duas espingardas encontradas no local e apreendidas pela PM estavam descarregadas.
Ele acusou os seguranças de arem informação errada para a PM, dizendo que os dois irmãos garimpeiros eram do PCC e estavam fortemente armados dentro do Rio Azul.
“Os dois estavam com duas espingardas ‘por fora’ descarregadas e não reagiram. Eles estavam saindo com o ouro e os policiais começaram a atirar. Deita, deita, deita… O primeiro foi baleado no ombro, quando ainda estava dentro do barranco e jogou a espingarda fora, dizendo que estava descarregada. O outro jogou a outra arma dentro do rio, também gritando que estava descarregada… Eles gritaram para os dois viraram os rostos e deram um tiro no meu filho no estômago”, afirmou o pai dos dois garimpeiros.